LinkedIn, aclamada como a plataforma líder no que toca a redes sociais profissionais, prometia revolucionar o modo como as pessoas interagem com as suas carreiras, empresas e oportunidades de trabalho. Desde o seu surgimento, tem sido promovida como o local onde se constroem carreiras, se fazem contactos valiosos e se acedem a oportunidades de emprego. No entanto, a realidade por trás deste sonho profissional é bem diferente.
LinkedIn, tal como outras redes sociais, está imbuída de toxicidade e apresenta perigos para a saúde mental e bem-estar dos seus utilizadores.
O Mito da "Carreira Perfeita"
Ao navegar pelo LinkedIn, é impossível ignorar a avalanche de publicações sobre conquistas profissionais, promoções, prémios e novos empregos. Os utilizadores publicam incessantemente sobre os seus sucessos, parecendo muitas vezes que todos estão num ciclo constante de progresso e crescimento. Esta exposição constante à narrativa de sucesso absoluto cria um ambiente onde a comparação é inevitável. Para muitos, isso conduz a um sentimento de inadequação.
Aqueles que estão à procura de emprego, estagnados nas suas carreiras ou a enfrentar dificuldades, encontram-se numa posição extremamente vulnerável quando confrontados com a versão “idealizada” das trajetórias profissionais dos outros. Esta constante exibição de perfeição profissional leva a sentimentos de fracasso e à perpetuação de uma ansiedade constante. É quase como se, ao usar o LinkedIn, cada utilizador fosse confrontado com a ideia de que não está a fazer o suficiente, que é incapaz de acompanhar o ritmo imposto pela plataforma.
Além disso, existe uma espécie de "competição silenciosa", onde os utilizadores se sentem pressionados a manter uma imagem perfeita, partilhando atualizações que perpetuam essa narrativa de crescimento contínuo. Publicar sobre fracassos ou dificuldades é praticamente tabu, o que apenas reforça uma cultura de desempenho artificial, onde o fracasso e as dificuldades são escondidos, em vez de abordados de forma honesta e construtiva.
O Vazio das Candidaturas de Emprego
Um dos aspectos mais frustrantes do LinkedIn, e que mais contribui para a sua toxicidade, é a experiência associada à procura de emprego. A plataforma está repleta de anúncios de vagas que parecem promissoras, levando muitos utilizadores a investir tempo e energia na criação de currículos detalhados e na escrita de cartas de apresentação personalizadas. Contudo, na grande maioria dos casos, essas candidaturas ficam sem resposta.
O que deveria ser um processo de diálogo e interação entre candidatos e empregadores, acaba por ser uma experiência frustrante e desmotivadora. As empresas publicam anúncios de emprego, recebem centenas, senão milhares, de candidaturas, mas raramente oferecem qualquer tipo de retorno. O silêncio é ensurdecedor, e os candidatos são deixados numa espécie de limbo, sem saberem se a sua candidatura foi sequer considerada. Esta falta de feedback gera uma sensação de invisibilidade, levando à dúvida sobre as próprias competências e valor.
O LinkedIn, ao invés de se tornar um facilitador de oportunidades e de interações humanas significativas, transforma-se num muro de frustração, onde os candidatos são confrontados com a indiferença das empresas. Este ciclo de candidaturas sem resposta é desumanizador, criando um ambiente onde a esperança se transforma rapidamente em desespero.
A Performatividade Profissional
Outro aspecto problemático do LinkedIn é a cultura de performatividade que a plataforma incentiva. Para muitos utilizadores, a pressão para criar uma imagem profissional idealizada é esmagadora. O perfil no LinkedIn é cuidadosamente construído para refletir uma narrativa de sucesso, onde se destacam as conquistas, os cursos frequentados, as recomendações e os artigos escritos. Cada detalhe é moldado para impressionar potenciais empregadores ou contactos profissionais.
Contudo, esta busca incessante pela perfeição gera uma desconexão entre a realidade da vida profissional dos utilizadores e a imagem que eles apresentam online. É quase como se os utilizadores estivessem a desempenhar um papel, a curar a sua própria versão de sucesso, em vez de apresentarem uma imagem autêntica das suas carreiras. Esta dissonância entre a vida real e a vida "curada" no LinkedIn pode ter efeitos devastadores na saúde mental, pois os utilizadores começam a sentir-se presos a uma versão de si mesmos que não conseguem manter.
A pressão para estar constantemente a partilhar atualizações sobre novos cursos, certificações ou promoções é intensa, e quem não o faz pode sentir-se relegado ao esquecimento. Esta dinâmica perpetua a ideia de que o valor de um profissional está diretamente relacionado com o quanto ele se promove e o quão frequentemente ele aparece na timeline dos outros utilizadores.
O Impacto na Saúde Mental
Ao contrário do que se poderia pensar, a toxicidade do LinkedIn não se limita ao ambiente de competição ou à frustração da falta de resposta às candidaturas de emprego. Existe também um impacto profundo na saúde mental dos utilizadores. A constante necessidade de manter uma imagem de sucesso, a pressão para obter resultados rápidos e a frustração com a falta de retorno nas candidaturas levam muitos a experimentar sintomas de ansiedade, stress e, em casos mais extremos, depressão.
A plataforma, que deveria funcionar como um meio de crescimento profissional, acaba por se transformar num local onde as inseguranças são amplificadas. A comparação constante com as carreiras dos outros, aliada à necessidade de autopromoção e à ausência de respostas das empresas, cria um ambiente tóxico que prejudica a autoestima e o bem-estar emocional dos utilizadores.
O Papel do Algoritmo
O algoritmo do LinkedIn também desempenha um papel crucial na perpetuação desta toxicidade. Tal como outras redes sociais, o LinkedIn está desenhado para promover conteúdos que gerem mais engajamento. Publicações que recebem mais gostos e comentários tendem a ser promovidas, o que significa que os utilizadores são incentivados a partilhar apenas aquilo que será bem recebido pela comunidade.
Isso cria um ciclo vicioso, onde a autenticidade é sacrificada em prol de postagens que agradem ao algoritmo e à audiência. Em vez de partilharem as suas verdadeiras lutas ou desafios profissionais, os utilizadores são compelidos a postar conteúdos inspiradores e de sucesso, perpetuando a cultura de performatividade que está no centro da toxicidade do LinkedIn.
LinkedIn: Uma Reflexão Necessária
LinkedIn, tal como outras redes sociais, é um reflexo das dinâmicas da sociedade moderna, onde a performance e a imagem muitas vezes se sobrepõem à substância e à autenticidade. A plataforma, que deveria facilitar conexões significativas e oportunidades reais, muitas vezes funciona como um espelho distorcido, onde a pressão para ter sucesso, ser visível e estar sempre em progresso constante gera ansiedade e sentimentos de inadequação.
Embora o LinkedIn tenha os seus méritos, nomeadamente no que toca à criação de redes de contactos e à partilha de conhecimento, é fundamental que os utilizadores estejam cientes dos perigos inerentes à plataforma. A busca incessante por validação, a frustração de candidaturas ignoradas e a cultura de performatividade profissional fazem do LinkedIn um espaço tóxico, onde a saúde mental e o bem-estar são frequentemente comprometidos.
Assim, cabe a cada utilizador reflectir sobre a forma como utiliza a plataforma e sobre os impactos que esta pode ter na sua vida. Talvez a verdadeira rede de apoio e crescimento profissional não esteja num perfil cuidadosamente curado, mas sim em relações genuínas, fora da bolha artificial do LinkedIn.